Ideias para se mimar no regresso das férias

Este podia ser mais um daqueles artigos, que falam de como “o mar, a piscina e o sol danificam os cabelos e secam a pele”. No entanto, nada tema, porque não é.

Sejamos francos. As férias de verão são das melhores partes do ano. Quanto mais não seja porque se sai da rotina, vê-se os amigos, os dias são longos, as noites amenas e bem ou mal, lá se descansa mais um pouco. O regresso à rotina também tem as suas coisas positivas, os novos projetos à vista e um ano letivo a estrear. Mas (mas!) há sempre um lado de nós que fica discretamente miserável nesta fase do ano. Há uma certa angústia quando se volta ao “mais do mesmo”. O trânsito, as filas, as compras de supermercado, as mil atividades das crianças, as reuniões, os saltos altos, o chefe, escolha o que mais se adequa a si e preencha o espaço.

Os mimos que aqui se referem são justamente para aliviar esta neura que se instala com a rentrée. Alguns são aparentemente dedicados ao corpo – os tais que têm o alibi de atenuar desgastes vários de verão, dos quais preferíamos continuar a desfrutar – mas na realidade todos são dedicados à sanidade mental e emocional. Com algum jeito e imaginação, há opções viáveis para todos os orçamentos, em cada sugestão. Bem-vindos a Setembro. Apertem o cinto, a viagem vai começar.

Mime o seu espaço

 Quer queiramos quer não, o espaço em que nos encontramos reflete o que nos vai na alma. Na hora da revitalização pós-férias, podemos usar a casa a nosso favor para criar o mood certo e sentirmos que estamos a cuidar de nós logo desde que entramos pela porta.

 Comece por dar uma arrumadela geral – calma, Marie Kondo, não é hora (ainda) de revoluções na arrumação – abrir as janelas e arejar a casa.

Facilite a sua vida, dispondo na entrada da casa zonas onde possa “largar” de forma arrumada tudo o que traz consigo da rua e ter à mão tudo o que precisa ao sair, de forma a facilitar as idas e vindas.

Torne os “ninhos” da casa mais confortáveis, dispondo almofadas e mantas pelos sofás e mudando as cobertas da cama. Escolha uma ou duas cores principais inspire-se nelas para criar o ambiente. No outono, os verdes escuros e os tons terra, a lembrar as folhas caídas, resultam bastante bem. Use têxteis – toalhas de banho e mesa, mantas e até echarpes – assim como elementos naturais para dar a volta à decoração.

Mude alguns objetos de sítio e acrescente alguns sazonais, tais como pinhas, abóboras mini, folhas e flores frescas ou secas. Pondere fazer um pequeno arranjo de centro de mesa usando uma peça de cerâmica bonita, algumas flores, ramos e vegetais e um ou outro objeto de que goste. Os metais como o cobre, o bronze e o dourado costumam ficar bem neste tipo de arranjos. Há quem escolha quadros, imagens ou fotografias e componha o ramalhete com velas ou elementos naturais.

Por fim, traga cheiros aconchegantes para casa. Com velas aromáticas, incenso, flores, ambientadores, óleos ou sticks perfumados– alternativas seguras, para os distraídos que preferem não arriscar acender velas de que se vão esquecer – a mudança da paisagem olfativa ajuda a mudar o mood para o outono e reaviva o humor. Aromas como baunilha, rosa, canela, frutos secos ou caramelo podem trazer algumas notas cosy e felizes nesta altura do ano.

O SPA em casa, que não pode faltar

O regresso a casa é uma óptima altura para pôr em dia aqueles mimos de pele e cabelo que não cabem nas férias – porque, lá está, há demasiadas opções divertidas fora de casa – e ajudam a recuperar alguma sensação de auto-cuidado e alegria.

Todas as sugestões que se seguem têm um leque de possibilidades desde o DIY (do it yourself) – com ingredientes tirados da despensa ou aplicados em casa – até ao mais fancy, com tratamentos de instituto. No final de contas, a sensação de estar a fazer alguma coisa por si é o principal resultado, e esse felizmente aparece sempre.

Quem disse que ver um episódio da Netflix no sofá com o cabelo e a cara empapados em máscaras, e as mãos e pés em modo “não me toques” com as unhas acabadas de pintar não é um programa maravilhoso?

Faça a sua checklist de rosto, corpo e cabelo. Pense nos produtos que aplica mais raramente, como esfoliantes, máscaras hidratantes, óleo de cutículas ou uma boa pedra-pomes nos pés – que o tempo do look havaiana já lá vai – e escolha um dia para os aplicar. Tome posse da casa de banho, ponha boa música, um podcast ou o tal episódio na netflix, e desfrute do seu SPA.

Uma boa forma de fazer isto é usar a regra do “enquanto”: faça uma máscara hidratante no cabelo, e enquanto esta faz efeito, ponha os pés de molho em água morna; enquanto a pele dos pés amolece, faça uma máscara facial e deixe atuar, mesmo a tempo de passar a pedra-pomes nos pés e esfoliar as mãos – a combinação de óleo de côco e açúcar mascavado é fácil e faz milagres – e nisto, já se fez tempo de entrar para o banho. Remova as máscaras e os restos de esfoliante, e aproveite para esfoliar o resto do corpo. Os produtos com óleo não só ajudam a eliminar a pele morta como acrescentam uma boa camada de hidratação. Alguns até dispensam o creme depois do banho: win-win!

A maior parte destes produtos já habita a casa de banho de quase toda a gente, embora fiquem meses a arrastar-se por lá sem nunca ser usados. Quem nunca andou a gastar cremes oferecidos no Natal de há três anos? Se o orçamento não permite andar a comprar coisas novas, vasculhe o que já tem em casa. Entre amostras e frascos esquecidos, qualquer coisa vai aparecer! Se ainda assim estiver escasso, nada como assaltar a despensa: há milhares de receitas de máscaras e esfoliantes naturais que pode experimentar, correndo o risco de ficar fã.

Se no meio disto tudo puder fazer um investimento, a melhor aposta é uma massagem. Procure um terapeuta perto de si, fale com amigos e peça recomendações. Não há nada mais delicioso e revigorante que uma boa massagem. As tensões musculares do regresso ao trabalho são atacadas com mimos quase antes de se manifestarem, e com sorte, não se instalam tão cedo. Claro que em casos de aperto também pode ser feita em modo DIY. É como as batatas fritas de pacote: não sabem ao mesmo que as caseiras, mas são deliciosas na mesma! Quem sabe se não vai nascer aí uma nova vocação para a massagem?

Areje a cabeça

Depois de revitalizar o espaço em que vive, o corpo e a cabeça (por fora), chega a altura de instituir bons hábitos mentais e emocionais. Nem todos parecem mimos à partida, mas são talvez aquelas ações cujo benefício é maior e dura mais tempo.

Tiramos já o primeiro sapo do saco: não percamos mais tempo com os básicos. Nesta altura do campeonato toda a gente sabe que deve tentar comer bem, dormir horas suficientes e com qualidade, e fazer qualquer coisa para manter o corpo a mexer. Não queremos estar encarquilhados em formato cadeira de escritório ainda antes do Natal!

Invista na comunicação, tanto consigo próprio como com as suas pessoas. Um dos grandes benefícios das férias é exatamente podermos escolher com quem estamos, e dentro do possível, rodearmo-nos de pessoas que nos fazem bem.

Tome mais a iniciativa de estar com os amigos. Seja o chato que está sempre a tentar combinar, e se não conseguir estar presencialmente, telefone. É incrível, os desabafos e o peso dos ombros que nos saem de cima quando menos esperamos, quando está um amigo do outro lado da linha.

Arranje programas mesmo onde parecer impossível. Quem disse que ir ao supermercado não podia ser uma oportunidade de estar à conversa com um amigo ou um irmão? Claro que esta seria uma situação limite, mas na realidade há muitas estratégias que se podem usar para vencer a inércia de combinar coisas.

Neste jogo não há cerimónia, mas também não se desrespeitam os horários. Das 19h às 22h é um tempo razoável e dá perfeitamente para combinar copo, jantar e boa conversa. O programa é simples, despretensioso e caseiro. Recuperam-se hábitos já perdidos no tempo, como o aperitivo, e abrem-se as hostilidades para a lufada de ar fresco que é ter um programa destes durante a semana.

Encomendem jantar ou cada um traz qualquer coisa, reúnam-se à mesa ou todos no sofá a ver a final do quem quer namorar com não sei quem – o segredo fica bem guardado aqui entre nós, podem sempre dizer que estiveram a ver uma série finlandesa interessantíssima na 2 –  e desfrutem da vida simples, com amigos. É um autêntico mimo para a saúde mental, e pode tornar-se num bom hábito para o resto do ano.

Melhore a comunicação consigo próprio, concedendo-se alguns minutos por dia a meditar – ou a dormeditar – a escrever um diário, uma lista ou outro “brain dump” qualquer. Nas situações de maior aperto pode ajudar escrever numa folha todos os sentimentos angustiantes, por tolos que pareçam no papel; nas costas da folha, faz-se o exercício contrário: tudo o que está bem na vida. Parece um exercício de escola primária, mas tem um efeito gigante para relativizar problemas e encontrar algo positivo nos dias, logo é um digníssimo mimo.

Por fim, faça um ou outro mini-programa a solo durante a semana. Dê uma volta pelos os saldos – em modo mindful, para não dar asas à sua costela acumuladora, ou uma apoplexia ao seu contabilista interior – experimente uma coisa nova – aguarelas, macramé, dança tribal, sem medo de ser excêntrico – ou dê um passeio numa zona da cidade que não conheça, vá a um quiosque, compre uma revista e sente-se num café, meio a ler, meio a ver quem passa. Aprender algo novo, sair da rotina ou simplesmente fazer algo só porque sim, são dos maiores mimos para a alma, trazem outra vez um cheirinho a liberdade que só conhecemos nas férias, mas que é possível todo o ano.

Então, mime-se. Seja numa forma luxuosa, excêntrica, poupada, low-cost, mais ou menos caótica, previsível ou fora da caixa, tome conta de si. Vai ver que os autumn blues vão fugir a sete pés.

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