Como organizar a mala para as férias – Parte 1: Roupa e acessórios
Finalmente chegou aquela altura do ano em que nos libertamos da prisão da rotina e rumamos a um destino de férias. E se isto é sinónimo de fantasiar com bebidas extravagantes à beira de uma piscina infinita, é também o início de todo um dilema logístico: o que levar?
É certo que estamos na era pós-Covid, da aceitação – para uns, extática e para outros relutante – do loungewear e da democratização do tele-trabalho com um dresscode mais... aberto a novas interpretações. No entanto, as férias são, por excelência e para a maior parte de nós, a única oportunidade no ano de nos expressarmos realmente através do estilo. O resultado: milhares de peças colecionadas ou acarinhadas durante o ano com a doce promessa de verem a luz do dia naquela semana, mas poucos dias de glória e um espaço de bagagem cruelmente finito.
Vamos a um problema de cada vez. Se há no seu armário demasiadas peças específicas para as férias, pode estar a precisar de pesquisar algumas ideias e dar largas à criatividade para as usar noutros contextos. Não necessariamente no trabalho, mas na cidade, no fim de semana ou para ajudar à transição de um look de dia para a sua versão noturna mais descontraída ou sofisticada.
Outra explicação para esta abundância de roupas que só servem para as férias pode ter a ver com o singelo facto de estar a precisar de ter mais tempo para si. Comprar repetidamente ou criar um grande apego a peças de férias ano após ano é provavelmente uma expressão do desejo de sair mais da rotina. A solução aqui nunca é linear, mas pode passar por alocar alguns desses recursos – tempo e dinheiro – gastos nas compras para um programa que saiba a férias. Um copo com amigos ao final do dia, uma escapadela de fim de semana, um date especial, ou quem sabe uma reflexão mais a fundo sobre a forma como encara o seu trabalho e o seu tempo.
Mas vamos ao que interessa. O que levar? Aqui ficam algumas dicas para fazer a seleção da equipa vencedora.
Pense em pelo menos três looks para cada peça
É ligeiramente deprimente para os fashionistas, mas o volume da mala de roupa para uma semana ou para um mês pode não ser dramaticamente diferente. Tudo está na versatilidade e na repetição. Pense nas vantagens além do óbvio. Se comprou aquelas peças com a devoção característica de um Zaragasm – a expressão da stylist Garance Doré quando encontrava “a” peça numa loja acessível – certamente quer usá-las mais que uma vez. Sendo assim, o desafio é explorar os looks possíveis usando cada uma dessas peças como personagem principal. Mude combinações de cores, acessórios, use um vestido como saia, um lenço como top, uma camisa como blazer ou como saída de praia. Um bom rácio será ter três looks por peça-chave. Com uma boa seleção de básicos e acessórios, tirará mais partido das suas roupas favoritas.
2. Crie uma sequência de cenários
Uma boa forma de estimular a criatividade à volta de uma peça é colocá-la em contextos diferentes. Uma peça como um vestido pode ser “estreada” num look de noite, onde merece todo o destaque e pode ser embelezada com os acessórios mais chic ou extravagantes. A mesma roupa pode ser depois usada num look de dia mais prático: pensemos no tal vestido, combinado com uma camisa atada com um nó e acessórios descontraídos. Algumas peças até resistirão a uma terceira camada de uso, na praia, por exemplo. Uma camisa pode ser usada aberta sobre um bikini, ou uma saia combinada com um fato de banho bonito para fazer uma transição fluida entre o último mergulho e uma sunset party.
3. Tente manter um esquema de cores versátil mas coeso
Aqui não se trata do cúmulo do aborrecimento de escolher tudo em cores sólidas e neutras para obter o maior número de combinações possível. Também não se trata de regras rígidas, de um número específico de peças ou cores obrigatórias, mas antes de um convite a pensar e escolher uma palette harmoniosa por onde possa ser criativo sem passar três horas a escolher cada outfit.
Aqui teremos em consideração que cada um tem os seus neutros, numa seleção mais abrangente que os clássicos: preto, branco, navy, cinza e bege. Para uma pessoa de tez morena ou subtom quente, cores terra como o castanho, o ocre, tijolo, taupe ou camel podem funcionar como neutros. Para uma pessoa de tez mais clara ou subtom frio, verde água, azul claro, salmão, rosa blush, pêssego ou cru podem ser usados como neutros.
Quanto aos padrões, as férias são o seu playground ideal. Não tenha medo de experimentar e até de os combinar. Para tornar a vida mais fácil, pode optar por um fio condutor, como uma cor comum, ou escolher uma forma preferencial para usar o padrão: parte de cima, de baixo, peças mais justas ou fluidas, bases ou acessórios.
Pode escolher para o conjunto geral três cores de personalidade vincada – idealmente com pelo menos duas a combinar entre si – e um ou dois bons neutros. Escusado será dizer que o que combina ou não é subordinado sobretudo ao gosto pessoal, pelo que os exemplos ou as convenções não são lei, mas para efeitos ilustrativos ficam algumas possibilidades.
Azul petróleo + verde água + lilás, com neutros cru e navy
Vermelho + verde escuro + bordeaux, com neutros pêssego e tijolo
Turquesa + violeta + dourado, com neutros pretos
Amarelo + verde aberto + azul cobalto, com neutros brancos e cinza
Não precisa de determinar as cores antes de escolher as peças. Esta pode ser uma forma de avaliar o quadro geral das peças que escolheu e ajudar a editar para conseguir mais combinações e não acabar com a peça calimero, aquela que sobra por não ter nada que combine com ela.
4. Escolha do núcleo para a periferia
Consideremos o núcleo a seleção de peças das quais quer realmente tirar partido. Básicos, peças-estrela, acessórios, vale tudo. Quando chegar a essa mão cheia de peças, comece a construir em volta destas. Aqui entram os neutros, as peças mais versáteis, aquelas que encaixam em mais que um look e que dão um certo conforto na hora da escolha.
Finalmente, olhe para o conjunto – aqui as capacidades de ordenar tudo dobrado e disposto em cima da cama por categorias fazem maravilhas – e faça de cabeça duas ou três combinações por cada peça. Se encontrar algum calimero que não combine com nada, ou apenas com uma outra peça, pode decidir entre prescindir, ou adicionar mais um básico que encaixe nesse e noutros looks. Tente editar, sempre que possível, e brincar com o conjunto em combinações novas.
Se tiver tempo e paciência, pondere experimentar algumas das combinações e fotografar. Assim fica com uma espécie de guia para os dias em que não lhe apetecer pensar para se vestir.
Escolha acessórios versáteis e adequados ao contexto. Se vai de férias com crianças é pouco provável precisar de mais que um par de saltos altos, na mais optimista das visões. Se passar dias inteiros na praia, não leve muitos sapatos fechados. Não há nada mais chato que carregar um monte de coisas que depois não se usa. É quase melhor arriscar que lhe falte e ter que fazer uma visita rápida a uma loja para colmatar a falha. Spoiler alert: quase nunca é preciso.
Ainda no tema dos acessórios, aproveite para levar os que ocupam pouco espaço mas ajudam a diversificar os looks: bijuteria, jóias – nada mais desconcertante e trendy que uma peça vintage da avó com um vestido leve de verão num jantar de amigos – lenços de seda, sacos de pano (como carteira despretensiosa, saco de praia ou de compras), óculos de sol e cintos.
Uma última dica: fuja de tudo o que usa normalmente para trabalhar, por mais útil e versátil que seja. Emocionalmente, quase numa mensagem subliminar, alterar as roupas que usa, ajuda a desligar e a descansar mais facilmente. Por fútil e irrelevante que a roupa possa parecer, é na realidade uma óptima ferramenta de comunicação. Já conhecemos essa vertente na forma como olhamos e somos olhados no contexto profissional e social, por muito que tentemos fugir dos preconceitos. Sabemos que a roupa comunica com os outros, passa mensagens mais ou menos relevantes, mais ou menos eloquentes. Mas também é uma forma de comunicação com o próprio, uma linguagem que pode ser usada para animar, mimar, melhorar a auto-estima ou simplesmente mudar de contexto. É justamente esse o convite. Nestas férias seja criativo, saia do contexto, divirta-se e cuide de si.